
PROFISSIONAIS COM DEFICIÊNCIA: QUEBRANDO BARREIRAS
Eles não se conhecem e, mesmo sem saber, compartilham uma história muito parecida. Gildo Porfírio ficou paraplégico aos 21 anos; Alexandre Aguera ficou tetraplégico aos 15 anos. Ambos foram baleados. Gildo tem hoje 33 anos e mostrou - aos outros e a si mesmo - que não há motivo para deixar a vida parar antes que ela acabe. Ele era ainda muito jovem quando foi baleado e passou por muitas dificuldades até entender que precisava se recuperar e continuar vivendo. "Eu ainda tinha esperanças de voltar a andar, até que a médica me falou o diagnóstico e que era irreversível. Foi um baque, eu não queria fazer mais nada", conta. Mesmo com o susto e com o desânimo em imaginar uma vida totalmente diferente da que sempre teve, ele encontrou forças na família, respirou fundo e voltou a lutar. "Eu resisti muito até ceder e ir até a AACD. Comecei a fazer um acompanhamento e descobri que tinham várias outras pessoas em situações bem mais difíceis que a minha felizes, trabalhando. Foi quando eu acordei - comecei a trabalhar, a me reabilitar", lembra. Ele já passou por várias empresas e há um ano trabalha numa editora. Com sete meses de casa, Gildo recebeu uma promoção. Ele não pretende parar por aí. Sabe que está crescendo profissionalmente graças a seus esforços e pretende continuar seus estudos. "Eles reconhecem o meu trabalho. Eu ganhei uma promoção em pouco tempo. Fui para um departamento onde todos têm um curso superior e eu não posso ficar parado, preciso correr atrás também", afirma Gildo. Alexandre hoje tem 34 anos e está trabalhando, mas também já passou por muitas dificuldades até conseguir se reabilitar e aceitar as mudanças em sua vida. Ainda adolescente, foi difícil encarar a realidade e mais difícil ainda pensar em partir em busca de uma oportunidade no mercado de trabalho. "Foi bastante complicado voltar ao mercado, uma fase muito ruim. Eu tinha só 15 anos e estava tetraplégico. Não queria mais nada. Foi quando eu conheci a AACD e tive um apoio muito grande lá dentro", relembra Alexandre. Essa força que recebeu não só foi muito válida como também fez toda diferença durante a sua reabilitação. "Fui terminar meus estudos, fiz curso de Informática e depois de um bom tempo eu consegui acordar para a vida. Consegui um emprego na própria AACD, onde fiquei durante 10 meses, até que surgiu uma oportunidade melhor e eu aceitei". Hoje ele trabalha numa empresa multinacional de seguros como assistente administrativo. Gildo e Alexandre são apenas dois exemplos. Existem hoje, só no Estado de São Paulo, segundo a Delegacia Regional de Trabalho, aproximadamente 4,2 milhões de pessoas com deficiência. O número é muito alto e essas pessoas precisam de um espaço no mercado de trabalho. Por esse motivo, há mais de uma década, devido ao baixo número de profissionais com deficiência inseridos no mercado, viu-se a necessidade de criar a Lei de Cotas para deficientes.



DIFICULDADE EM ENCONTRAR PROFISSIONAIS Muitas empresas que não conseguem cumprir a cota estipulada por Lei alegam quase sempre a mesma coisa: falta de profissionais qualificados no mercado. Apesar dessa dificuldade real, ela não é unânime. Há bons profissionais, mas há uma barreira que, muitas vezes, distancia o profissional com deficiência do mercado de trabalho: BPC-LOAS - Benefício Assistencial de Prestação Continuada da Lei Orgânica de Assistência Social. Esse benefício garante à pessoa com deficiência um salário mínimo mensal. Porém, para ganhá-lo, ela deve ser considerada totalmente inválida para o trabalho. Caso haja inserção no mercado de trabalho, ela perde automaticamente o benefício e deixa de recebê-lo mesmo que saia do emprego. Isso faz com que muitos optem por não voltar para o mercado e desistam automaticamente dos estudos e da qualificação "As pessoas com deficiência têm certa resistência a encarar o mercado justamente por conta desse benefício. A própria família segura muito. Então, isso é um grande empecilho para as empresas conseguirem encontrarem profissionais", explica Guilherme Bara, consultor do Instituto Paradigma. Segundo o coordenador do Programa de Qualificação Profissional do Instituto Paradigma, Danilo Namo, um outro fator que dificulta o encontro entre empresa e profissional com deficiência é o medo que esse profissional acabou adquirindo no decorrer do tempo. "Os profissionais estão passando por um momento de muita insegurança. A maioria está muito insegura. A gente vê um sentimento de cansaço, de batalhar e não conseguir, Por isso trabalhamos muito esse aspecto durante os treinamentos", diz. O MAIS IMPORTANTE É NÃO DESISTIR! Alexandre e Gildo são dois exemplos de quem acreditou e não deixou o tempo parar em meio às dificuldades impostas pela vida. Para eles, o mais difícil foi dar o primeiro passo. "Eu já passei por isso e sei o quanto é complicado ter de começar de novo. Comprometa-se, pegue firme, estude bastante, pois só assim você poderá conseguir um futuro brilhante", aconselha Alexandre. Gildo também deixa seu recado para aqueles que estão passando hoje pelo que ele passou há anos, quando, mesmo com barreiras, não desistiu. "Tem de pensar que a vida continua. Se você teve a oportunidade de estar vivo, agora só basta ter vontade de lutar, correr atrás. As portas estão abertas, mas é preciso ir atrás e ocupar o seu espaço", finaliza.