Às vésperas de comemorar três anos de existência, o site de relacionamento Orkut parece ampliar ainda mais as formas de contato entre as pessoas. De uma ingênua página que possibilita reencontrar velhos amigos, conhecer novas pessoas e compartilhar interesses, o site parece estar se transformando numa ferramenta cada vez mais útil para a vida profissional.
O número de comunidades que ofertam vagas de emprego se multiplica e as próprias empresas começam a fazer buscas para saber do candidato muito mais do que ele revela durante uma entrevista. Uma pesquisa recente da empresa Viadeo, realizada com 2 mil consumidores e mais de 600 empregadores na Internet, revela que um em cada cinco empregadores faz esse tipo de busca e 59% deles afirmam que o "dossiê" levantado após uma pesquisa no Orkut pode influenciar na seleção de um profissional.
Além do Orkut, também são levadas em conta páginas no MySpace, Facebook (site de relacionamento pouco popular no Brasil), blogs e até vídeos no YouTube. Todo esse intercâmbio com o mundo virtual pode influenciar na hora de buscar um emprego.
CUIDADO COM O SEU PERFIL
Entre as interações mal-vistas na rede estão as comunidades ligadas ao consumo excessivo de álcool e aquelas que pregam desrespeito ou desinteresse pelo trabalho. Mas não são as únicas. Um recrutador pode analisar seu perfil e considerar que suas preferências não estão alinhadas à filosofia da empresa ou, pior, pode considerá-las pouco éticas. Gláucia Santos, consultora de RH da Catho Online, afirma que "o profissional pode passar aspectos extremamente negativos por meio de comunidades de conteúdo discriminatório, sexual ou relacionado a práticas ilícitas." Cientes desse risco, muitas pessoas optam pela criação de mais de um perfil, ou seja, criam uma página para contatos profissionais e outra para relacionamentos pessoais, evitando qualquer tipo de constrangimento na hora de procurar emprego. O técnico em informática e estudante Marcos Lavorato, que atua na área de desenvolvimento Web, acredita que o candidato deve ser o mais verdadeiro que puder ao colocar suas informações pessoais. "Tente ser o mais transparente possível, mas sem exageros.". Ele dá o conselho com base na sua própria experiência. "Já me fizeram uma proposta pelo Orkut para um trabalho como freelancer. Acabou dando certo. Até hoje falo com essa pessoa e já fizemos outros trabalhos juntos", conta.
CONTRATANTE OU SHERLOCK HOLMES?
A pesquisa, realizada internacionalmente, parece ser um aviso para aqueles que não acreditavam nesse tipo de "investigação" feita por algumas empresas. Nem todas as informações pessoais contribuem para a desclassificação de um candidato. Cerca de 13% dos empregadores entrevistados pela pesquisa da Viadeo tiveram boas surpresas com os perfis verificados e decidiram contratar os profissionais. Gláucia, da Catho, afirma que "a maior ação que o Orkut representa hoje na empregabilidade refere-se à identificação de perfis dos profissionais, uma vez que o mesmo apresenta uma série de informações - ainda que de forma superficial - sobre suas aptidões e interesses." Lavorato, por sua vez, acredita que o Orkut pode auxiliar os recrutadores. "É uma forma de achar pessoas qualificadas, descobrir qual é o estilo de vida delas e se podem se encaixar no perfil que a empresa procura, baseado nas informações cadastradas", comenta.
NAVEGANDO EM BUSCA DE UMA OPORTUNIDADE
Para quem já descobriu na Internet uma ótima aliada na busca de emprego, o Orkut virou mais uma fonte, mas é preciso tomar cuidado: assim como as demais informações publicadas no site, as vagas podem ser falsas ou omitir detalhes importantes - pois não se pode assegurar a procedência de 100% delas. A questão que envolve confiabilidade dos dados ainda é um grande obstáculo. Apesar de parecer um bom lugar para buscar oportunidades, Lavorato acredita que o Orkut não é a melhor ferramenta para isso. "Você lida com todo o tipo de pessoa e com certeza há aproveitadores que, muitas vezes, tiram proveito da ingenuidade das pessoas." Para Gláucia, é essencial identificar se há idoneidade na proposta da vaga e buscar referências da empresa empregadora. "Além disso, o profissional deve desconfiar de propostas nas quais seja necessário pagar para realização de testes ou adquirir produtos."
* Naísa Modesto é jornalista da Catho Online.